Ela chega na avenida, olha para um lado e outro. Passa carro,
passa carro, passa carro, passa carro... respira... olha de novo... passa carro,
passa carro, passa carro...respira fundo, dá tempo, corre gordinha, corre,
corre... chega do outro lado (ô avenida larga da porra). Lá vem o ônibus. Corre
para a parada gordinha, corre, corre, corre... ufa, deu tempo.
Entra. Bom dia! Passa na borboleta... olha em volta. Ônibus quase
vazio, só gente nas janelas... olha, olha, escolhe e senta do lado de um rapazinho
de cabelo bem cortado, de óculos escuro rayban (pode ser falso ou não), que está
com fones no ouvido.
Ela senta, enxuga o suor da testa. Suor brota, enxuga, suor
brota, enxuga, suor brota... enxuga... ah, deixa para lá que ela sua para diabo
e isso não vai acabar nunca...
Olha ao redor, nada. Apura os ouvidos, nada... que ônibus
mais sem graça é esse onde ninguém conversa, não há um caso de família, nenhuma
senhorinha conta histórias de sua vida, nenhum estudante conta fofoca da
escola... tudo calado, só o barulho do motor insiste em reinar.
Ela apura a vista, nada, ninguém... todo mundo olha pelas
janelas... nada para se ver, nada para se ouvir. Ela entristece. Já não se
fazem mais ônibus como antigamente, com menino gritando, mãe falando, vizinha
fazendo fofoca, nenhuma história alheia para se ouvir, nenhuma pauta boa para
se fazer depois... nada para se ver, nada interessante... que saco!
E a viagem segue... e ela olha, ouve... nada...
Estica o olho para o lado... vai estudar o colega de banco...
menino simpático... não mais que 22 anos... camisa escura de botões, mangas
curtas, mochila no colo, nos ouvidos fones e na mão, ligado ao fone... um minion.
Ai que lindo!!!
Um ipod de minion, coisa mais linda! Ela quis um imediatamente.
E imaginou o que aquele mi
nion estaria contando (ou cantando) no ouvido do
rapazinho...
E apesar de nada ter ouvido naquele ônibus barulhento... ela
se deu por satisfeita, porque conseguiu ver ao menos uma coisa bem legal ali e
só isso já lhe valeu o dia.
Aí aproveitou o vento bacana que invadiu a janela quando o
ônibus passava sobre a ponte, porque foi justamente por causa dessa janela, bem
posicionada, que ela escolheu sentar-se ao lado do rapazinho... e valeu a pena.
E no dia seguinte teria ônibus de novo para desbravar...
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