quarta-feira, janeiro 14

Uma viagem




Ela chega na avenida, olha para um lado e outro. Passa carro, passa carro, passa carro, passa carro... respira... olha de novo... passa carro, passa carro, passa carro...respira fundo, dá tempo, corre gordinha, corre, corre... chega do outro lado (ô avenida larga da porra). Lá vem o ônibus. Corre para a parada gordinha, corre, corre, corre... ufa, deu tempo.
Entra. Bom dia! Passa na borboleta... olha em volta. Ônibus quase vazio, só gente nas janelas... olha, olha, escolhe e senta do lado de um rapazinho de cabelo bem cortado, de óculos escuro rayban (pode ser falso ou não), que está com fones no ouvido.
Ela senta, enxuga o suor da testa. Suor brota, enxuga, suor brota, enxuga, suor brota... enxuga... ah, deixa para lá que ela sua para diabo e isso não vai acabar nunca...
Olha ao redor, nada. Apura os ouvidos, nada... que ônibus mais sem graça é esse onde ninguém conversa, não há um caso de família, nenhuma senhorinha conta histórias de sua vida, nenhum estudante conta fofoca da escola... tudo calado, só o barulho do motor insiste em reinar.
Ela apura a vista, nada, ninguém... todo mundo olha pelas janelas... nada para se ver, nada para se ouvir. Ela entristece. Já não se fazem mais ônibus como antigamente, com menino gritando, mãe falando, vizinha fazendo fofoca, nenhuma história alheia para se ouvir, nenhuma pauta boa para se fazer depois... nada para se ver, nada interessante... que saco!
E a viagem segue... e ela olha, ouve... nada...
Estica o olho para o lado... vai estudar o colega de banco... menino simpático... não mais que 22 anos... camisa escura de botões, mangas curtas, mochila no colo, nos ouvidos fones e na mão, ligado ao fone... um minion. Ai que lindo!!!
Um ipod de minion, coisa mais linda! Ela quis um imediatamente. E imaginou o que aquele mi
nion estaria contando (ou cantando) no ouvido do rapazinho...
E apesar de nada ter ouvido naquele ônibus barulhento... ela se deu por satisfeita, porque conseguiu ver ao menos uma coisa bem legal ali e só isso já lhe valeu o dia.
Aí aproveitou o vento bacana que invadiu a janela quando o ônibus passava sobre a ponte, porque foi justamente por causa dessa janela, bem posicionada, que ela escolheu sentar-se ao lado do rapazinho... e valeu a pena.
E no dia seguinte teria ônibus de novo para desbravar...


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