segunda-feira, novembro 16

Sempre desvirada

Por Ana Coaracy

Às vezes fico me perguntando o que leva uma criatura a ser supersticiosa. Agora pouco mesmo, durante famigerada Copa do Mundo, vi alguém jurar que o Brasil não ganhou a partida contra a França por que (a pessoa) saiu de casa e não assistiu ao jogo sentada em seu sofá, como fez nas outras partidas. Quebrou a corrente!
Se o resto do Brasil sabe disso, pense num linchamento. E o pior é que as pessoas acreditam com tanta força, que choram por que prejudicam o bom encaminhamento das coisas com suas atitudes, digamos, impensadas. Se essa pessoa tivesse ficado em casa, com certeza o Brasil venceria. Poxa, que falta!
Esse negócio de superstição, se a gente parar para prestar atenção é muito engraçado. Tem gente que diz que não é católica, não vai sequer à igreja, mas quando sai de casa faz o sinal da cruz e até dá uma rezadinha básica para se proteger. Tem aqueles que só entram em um ambiente com o pé direito, bate na madeira três vezes para espantar o mal e leva o carro para batizar em São José de Ribamar para evitar batidas e contratempos.
Aquela palavrinha de quatro letras que não se deve dizer para não gerar “má sorte”. Deus me livre de falar na frente dos supersticiosos.
E na virada do ano, quantas ondinhas são mesmo? E as uvas, cujos caroços têm que ser guardados o ano todo, salvo engano. Ainda tem a lentilha. No Natal é peru, no Ano Novo não pode por que cisca para trás. Só pode porco, por que fuça para frente. Não ri que a coisa é séria.
Pior é ter que lembrar disso tudo, para não se sentir estranho no ninho. Lembro que numa virada do ano me perguntaram pelas uvas. Ainda bem que eu as tinha na geladeira, apesar de serem para consumo próprio, afinal nem sabia da “simpatia supersticiosa”. Resultado: Tive que socializar e não deu para quem quis. Espero que tenha dado sorte.
Pior são aqueles que dizem que não são supersticiosos e tomam banho com dois quilos de sal grosso na virada do ano e ainda obrigam a gente a fazer o mesmo.
E quem não deixa a sandália virar por que pode morrer alguém da família? Se criança passar sob suas pernas, ela não cresce. Tem que “despassar”.
Quando eu era pequena virava as sandálias e ficava esperando para ver se alguém morria mesmo, depois ficava com medo e desvirava. Nunca tive coragem de esperar e descobrir se acontece mesmo.
O problema é esse. A gente fica com medo das coisas darem errado caso não se faça como está estabelecido pela superstição (como a história do jogo) e termina supersticiosa também.
A gente pega por osmose essa coisa e quando se vê, está assando peru no Natal e porco no ano novo, passa a assistir jogo do Brasil sempre no mesmo lugar; batiza carro em São José de Ribamar; usa um patuazinho para proteger; se falar a palavra de quatro letras, bate na madeira três vezes; faz sinal da cruz e usa pé direito para entrar em um ambiente; olho de Santa Luzia na parte detrás do cordão; sandália desvirada, sempre desvirada. Na dúvida, desvirada.

artigo feito em julho de 2006

Um comentário:

  1. me acabo de ri com esses teus post rsrs
    eu tmbm virava esperando q alguem morresse so q sempre vinha alguem e dizia q ia morrer alguem q eu amava muito, mas qm eu amava muito eu n qria q morresse ai eu desvirava rs bizarro essas coisas mas pelo sim pelo nao prefiro ser superticiosa e dar a volta no quarteira a passar debaixo da escada rsrs

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