quinta-feira, agosto 16

O Laço de Fita



O LAÇO DE FITA 
Poesia de Castro Alves 


Não sabes, criança? ‘Stou louco de amores... 
Prendi meus afetos, formosa Pepita. 
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?! 
Não rias, prendi-me 
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas, 
Nos negros cabelos da moça bonita, 
Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem, 
Formoso enroscava-se 
O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa, 
Qual pássaro bravo, que os ares agita, 
Eu vi de repente cativo, submisso 
Rolar prisioneiro 
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia 
Debalde minh’alma se embate, se irrita... 
O braço que rompe cadeias de ferro, 
Não quebra teus elos, 
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala, 
Os astros se libram na plaga infinita. 
Os anjos repousam nas penas brilhantes... 
Mas tu... tens por asas 
Um laço de fita.
Há pouco voavas na célere valsa 
Na valsa que anseia, que estua e palpita. 
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios... 
Beijava-te apenas... 
Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos 
N’alcova onde a vela ciosa... crepita, 
Talvez da cadeia libertes as tranças 
Mas eu... fico preso 
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale 
Abrirem-me a cova... formosa Pepita! 
Ao menos arranca meus louros da fronte, 
E dá-me por c’roa... 
Teu laço de fita.



Na primeira versão de Sinhá Moça que assisti, em 1986, Marcos Paulo era Rodolfo e Lucélia Santos era Sinhá Moça. Ele declamou para ela esta poesia no trem... e eu me encantei...nunca mais esqueci... li e reli várias vezes... (eu tinha 14 anos e uma cabeça cheia de sonhos românticos...)   

Um comentário:

  1. Aninha, eu também vi o Marcos Paulo declamando essa poesia linda do Castro Alves, sonhei, suspirei... Também era bem novinha e achei aquilo a coisa mais romântica e linda que eu já tinha ouvido. Muito legal relembrar isso agora... Obrigada.

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