quinta-feira, novembro 3

Câncer de laringe... o que é?


Nos últimos dias muito se tem ouvido falar sobre câncer de laringe. E é Lula para cá, é tratamento no SUS para lá... causas da doença, se o ex-presidente fumou muito, se bebeu, o que pode ter causado a doença... e tal... curiosa, fui atrás de informações sobre a doença e, para minha sorte nem precisei pesquisar tanto, pois caiu em minha mão um artigo interessantíssimo, que trouxe tudo o que eu precisava. O texto é um pouco longo, mas detalha tudo o que você queria e até o que você não queria saber sobre o câncer de laringe... ei-lo! (Quanto ao Lula, espero que se recupere em breve, por que ninguém merece uma doença dessas!)




Tabaco, álcool e poluição são os principais fatores de risco de câncer de laringe e diagnóstico tardio ocorre em 75% dos casos

Quando diagnosticados e tratados em fase inicial os tumores de laringe chegam a 90% de chances de cura. Prevenção começa pelo não consumo de cigarro ou outros derivados do tabaco e também evitando o consumo de álcool e exposição à poluição. Principais sintomas são rouquidão, dificuldades para engolir, dor de garganta constante, falta de ar, caroços no pescoço, mau hálito, perda de peso e tosse. Pesquisa do Hospital A.C.Camargo aponta que 75% dos diagnósticos ocorrem em fase avançada da doença
As formas de prevenção e os sintomas de câncer de laringe são bem estabelecidos pela Medicina, mas as informações não são refletidas junto à sociedade de forma eficaz. É o que aponta estudo liderado pelo Hospital A.C.Camargo em parceria com a Universidade McGill, do Canadá. Após entrevistarem 1.568 pessoas sem câncer e outras 784 com tumores de cabeça e pescoço, dentre eles o de laringe, atendidas em três capitais brasileiras - São Paulo, Curitiba e Goiânia -, eles tornaram mais claros os fatores de risco genéticos e ambientais associados ao surgimento dos tumores de boca, faringe, laringe e tireóide. Os achados - feitos em colaboração com o Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba e o Hospital Araújo Jorge, em Goiânia - resultaram em dez artigos científicos publicados nos últimos 15 anos em revistas internacionais especializadas.
De todos os fatores de risco avaliados, um não pode ser evitado: a hereditariedade. Quem tem um parente de primeiro grau - pais, irmãos ou filhos - com um tumor maligno em qualquer parte do corpo corre risco de 1,2 a 2,4 vezes maior de desenvolver câncer de cabeça e pescoço. Essa possibilidade varia bastante dependendo da localização do tumor e da relação de parentesco: se o familiar tiver um câncer de cabeça e pescoço, o risco é 3,7 vezes maior e pode chegar a 8,5 vezes caso a pessoa afetada seja um irmão ou uma irmã, segundo uma análise de pesquisadores destes centros publicada no International Journal of Cancer.
De acordo com o cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital A.C.Camargo, José Magrin, é preciso dedicar uma atenção especial aos fatores muitas vezes controláveis. “Ingerir quantidades elevadas de álcool, hábito de 13% dos homens e 3% das mulheres no Brasil, aumenta o risco de desenvolver câncer na boca, laringe e faringe, possivelmente por causa da ação do próprio álcool ou de seus subprodutos sobre a camada de células que reveste esses órgãos”, observa.
Outro artigo, publicado em 2001 na Cancer Causes and Control, a probabilidade de desenvolver algum desses cânceres cresce ao menos quatro vezes para quem bebe um copo de cerveja por semana durante um a 15 anos. Esse risco é seis vezes maior para a pessoa que bebe até 10 doses de cachaça por semana ou 10 vezes mais elevado para quem, em vez de cachaça, prefere um bom uísque.
Luiz Paulo Kowalski, diretor do Núcleo de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo, alerta também para o risco gerado pelo tabagismo. “A possibilidade de câncer de laringe sobe ao menos cinco vezes para as pessoas que fumam e fica entre oito e 11 vezes maior para quem fuma cigarro industrializado, cigarro de palha ou cachimbo, alerta o especialista ao comentar resultados de pesquisa com sua participação publicados em 1999 na Epidemiology. O mesmo estudo mostra ainda que esse risco diminui consideravelmente entre cinco e 10 anos depois de parar de fumar (cigarro industrializado ou de palha). Associada aos danos físicos e funcionais, surge uma complicação adicional: a queda da auto-estima, que leva quase metade das pessoas com tumores de cabeça e pescoço a sofrer de depressão - e uma em cada cem a tirar a própria vida, a segunda maior taxa de suicídio entre os portadores de câncer.

Diagnóstico tardio, um problema nacional

Três em cada quatro tumores de cabeça e pescoço são descobertos em estágio avançado, quando as chances de cura são menores e os tratamentos mais agressivos. O dado é de um estudo sobre o perfil epidemiológico desses cânceres no estado de São Paulo, feito pelo Hospital A.C.Camargo.
Para chegar ao resultado, os autores analisaram o registro de mais de 16 mil pacientes entre os anos de 2000 e 2006, diagnosticados com tumores de lábio, faringe, laringe, amídala e glândulas salivares, entre outros. Trata-se de um dos poucos levantamentos que detalharam as prevalências de cada um dos tumores englobados no grupo considerado câncer de cabeça e pescoço.
Segundo o trabalho, 75% dos casos foram diagnosticados em estágio avançado e isso não se alterou ao longo dos anos. No mesmo período, os casos de câncer de nasofaringe tiveram o maior aumento proporcional. Os pacientes diagnosticados eram, na maioria, homens com mais de 60 anos e baixo nível de escolaridade. "Para grande parte da população falta mais conhecimento sobre os sintomas que alertam para a doença", afirma Luiz Paulo Kowalski. "A maioria desses tumores acontece nas mucosas da cavidade oral, laringe e esôfago e faltam profissionais capacitados para identificá-los precocemente e encaminhar os casos para um serviço especializado”, acrescenta.
Estima-se que os cânceres de boca e orofaringe (garganta) sejam os tipos mais frequentes dessa categoria, somando aproximadamente 390 mil novos casos a cada ano no mundo. Segundo o artigo, o Brasil se destaca como um dos países com maior incidência desses tumores, devido à exposição aos fatores de risco.
Os tumores de cabeça e pescoço são relacionados à exposição excessiva ao sol (que causa a doença na pele e nos lábios), tabagismo e consumo abusivo de álcool. Estudos recentes associam o aumento de casos à infecção pelo vírus HPV, mesmo em pessoas assintomáticas. Em se tratando de câncer de laringe, a cidade de São Paulo conta com uma incidência três vezes maior do que a média mundial e, além de tabagismo e álcool outro agravante para este panorama é a poluição atmosférica.

Câncer de laringe 
- 75% dos diagnósticos são tardios
- Atraso médio de seis meses a um ano por negligencia dos sintomas iniciais
– Representa 20% dos tumores de cabeça e pescoço (aproximadamente 8 mil novos casos/ano). 
- Sintomas iniciais: branda mudança de voz e leve dificuldade para engolir. 
- Sintomas de doença avançada: falta de ar, engasgos frequentes, perda de peso e muita dificuldade para engolir.

O que é a laringe?
A laringe é uma estrutura formada por músculos e cartilagem, localizada entre a base da língua e traquéia que tem como principal função abrigar as cordas vocais, que produzem a voz. A laringe também é responsável por proteger as vias aéreas inferiores (pulmão) de aspirações de alimentos durante a deglutição e é por ela que o ar que respiramos chega aos pulmões. Com isso, qualquer doença ou tumor que acometa a laringe pode afetar a voz, a deglutição ou a respiração.

Diagnóstico
O diagnóstico do câncer de laringe é realizado por meio de um exame chamado laringoscopia. A laringoscopia pode ser direta ou indireta, sendo que a laringoscopia direta é realizada em cirurgia. Esse exame é solicitado pelos médicos somente no caso de sintomas relacionados a doenças na laringe ou para pacientes fumantes há muitos anos.

Fatores de Risco e Prevenção: A presença do tabaco ou consumo do álcool como fator de risco é frequente para tumores de laringe. Caso o consumo do cigarro seja associado ao uso de bebidas alcoólicas o risco pode ser até 140 vezes maior comparado a uma pessoa que não fuma e não bebe. Outros fatores de risco são poluição do ar, infecção por HPV, refluxo gastresofágico, algumas exposições ocupacionais, como inalação frequente de produtos químicos. A prevenção começa pelo não consumo de cigarro ou outros derivados do tabaco e também evitando o consumo de álcool e exposição à poluição.

Tratamento - Radioterapia, quimioterapia ou remoção cirúrgica do tumor. Os três tipos de tratamento podem ser aplicados de forma isolada ou combinados entre eles. A escolha dependerá da extensão da doença e das condições clínicas do paciente. Thiago Bueno de Oliveira, oncologista clínico do Hospital A.C.Camargo, diz que o tratamento para o câncer de laringe depende de seu estágio.
Segundo ele, se o tumor estiver em nível mais inicial, em geral, é feito tratamento com radioterapia (aplicação de doses calculadas de radiação nos tecidos do corpo, feita principalmente em casos de tumores localizados) e uma cirurgia parcial, em que não é necessário retirar as cordas vocais, o que faz com que a função da fala seja protegida.

Nos casos mais avançados, costuma-se combinar radioterapia com quimioterapia (tratamento que administra remédios quimioterápicos que se espalham pelo corpo do paciente), mas sem cirurgia, também para proteger as cordas vocais. Oliveira conta que a cirurgia só é feita em casos em que o paciente não responde ao tratamento ou em que o câncer já está tão avançado que já não se consegue preservar a fala. “A cirurgia de câncer de laringe está associada à sequelas, como a incapacidade de falar, então é usada apenas em casos mais selecionados”, acrescenta Oliveira.

Chances de Cura - Casos identificados e tratados em fase inicial têm 90% de chances de cura. Caso o tumor tenha se espalhado para os gânglios linfáticos ou região do pescoço, as chances são em torno de 50%.

Pesquisas - O foco das pesquisas em se tratando de câncer de laringe está em identificar formas de oferecer ao paciente um tratamento personalizado, eficaz e minimante invasivo, além de predizer qual grupo responderá ao tratamento com quimio associada com radioterapia ou aquele que poderá evitar a laringectomia parcial ou completa (retirada da laringe). “Antes dos anos 90 o padrão era associar laringectomia com radioterapia, gerando mutilações severas em razão da retirada da laringe, perda da voz e uso por toda a vida de traqueostomia (um orifício artificial na traquéia), oferecendo uma sobrevida de 60% em cinco anos. A partir da penúltima década, estudos mostram que é possível evitar cirurgias em alguns pacientes, tratando-os com quimio associada radioterapia”, contextualiza José Magrin.

No entanto, afirma o cirurgião, apenas aproximadamente 40% dos pacientes são candidatos a evitar a cirurgia por conseguirem responder à combinação de quimio e radioterapia. Os grupos não respondedores são compostos pelos pacientes que apresentam tumores volumosos com invasão para partes moles do pescoço ou até a pele. “A meta é identificar novos e explorar melhor marcadores já conhecidos como o EGFR, apontando assim os potenciais candidatos a predizer a resposta ao tratamento”, destaca.

Munida destas informações, a equipe de Oncogenética reúne elementos para determinar o diagnóstico, realizado por meio de exames laboratoriais e de imagem, e o manejo, visando o diagnóstico precoce e a prevenção de novos tumores. Esta orientação pode ser estendida, em muitos casos, a muitos membros da família.

Mais informações ao público: www.accamargo.org.br

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