Narra Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro internacionalmente conhecido, O Pequeno Príncipe, que um seu amigo pilotava, certa vez, sobre uma cordilheira, quando seu pequeno monomotor sofreu uma pane, caindo sobre a montanha de neves eternas.
Ele não chegou a se ferir gravemente, mas suas pernas apresentaram profundos cortes e sérios ferimentos.
Com muito esforço, sentindo dores atrozes, ele abandonou a cabine do avião destroçado. Verificando a extensão dos ferimentos, compreendeu que não teria como sair dali sozinho. Ao seu redor, até onde a vista alcançava, era somente a solidão gelada.
Conhecedor da região, em rápida análise, entendeu que seu fim estava próximo, principalmente em razão dos ferimentos nas pernas. Por um instante sentiu-se tomado de pânico e pela dor de saber que chegara ao fim de seus dias.
Pensou na família que não tornaria a ver, nos amigos, nas tantas coisas que ainda pretendia realizar e na impotência de não ter a quem pedir socorro.
Depois, já mais calmo, começou a pensar sobre as medidas a tomar. Não havia nada a fazer para garantir a sobrevivência.
O mais sensato era deitar-se na neve e esperar que o torpor causado pelo frio tomasse conta de seu corpo, permitindo-lhe ser envolvido, sem dor, pelo manto da morte.
Deitado sobre a neve, ele dirigiu o pensamento a seus filhos. Filhos que ele não veria crescer. Pensou na esposa, de quem tanto gostava.
Aquele homem de espírito forte, batalhador, lutava consigo mesmo para se resignar à situação.
Começou a pensar em voz alta: "vou morrer, mas ao menos tenho o consolo de saber que eles não ficarão desamparados."
Meu seguro de vida tem cobertura suficiente para lhes proporcionar subsistência por muito tempo. Menos mal.
Felizmente tive o bom senso de estar preparado para uma situação destas. Tão logo seja liberado meu atestado de óbito, a companhia de seguros..."
Neste instante, ele teve um sobressalto. Sua apólice de seguro dizia que o seguro somente seria pago mediante a apresentação do atestado de óbito. Ora, naquele lugar inacessível, seu corpo jamais seria encontrado. Ele seria dado como desaparecido.
Não haveria, pois, atestado de óbito. Sua família não receberia o valor da apólice. Iria passar anos de privações, antes que ele fosse considerado oficialmente morto. Apavorou-se com a idéia.
"a primeira tempestade de neve que cair", pensou ele, "soterrará o meu corpo. Nunca irão me achar. Preciso caminhar até um lugar onde meu corpo possa ser encontrado."
Ele sabia que ao pé da cordilheira havia um povoado. Precisava chegar até lá, para que o seu corpo fosse encontrado.
Reuniu todas as forças que ainda lhe restavam. Ficou em pé. Foi preciso um esforço enorme para não cair. A dor era quase insuportável.
Consciente da distância que teria de percorrer, estabeleceu a meta de dar um passo. Jogou uma perna para frente e disse: "só um passo". E foi.
Jogou a outra perna e pensou: "só um passo". E assim, caminhou o dia todo: "só um passo."
Vencido pela dor e pelo cansaço, ele vislumbrou uns vultos. Deviam ser caçadores. Deixou-se escorregar para o chão e concluiu: "agora eu já posso morrer."
Dias depois, no hospital, abriu os olhos e a primeira imagem que viu foi a da esposa, ao seu lado.
Ele teve alguns dedos de um dos pés amputados, pois haviam sido congelados pela neve. Mas continuou vivo por muito tempo.
***
O exemplo desse piloto deixa bem clara a importância da estipulação de metas bem definidas. À curto prazo só um passo. À médio prazo - chegar ao pé da montanha. À longo prazo ter seu corpo localizado.
Por isso, estabeleça suas metas e dê, logo, o primeiro passo.
Se uma emergência obrigá-lo a fazer mudanças nos planos, os ajustes poderão ser feitos com pequenos passos complementares.
Mas, para isso, é necessário saber para onde você quer ir.
A primeira condição para se realizar alguma coisa, é não querer fazer tudo ao mesmo tempo.
FONTE: Equipe de Redação do Momento Espírita, a partir de texto intitulado Só mais um passo, atribuído a Antoine de Saint-Exupéry.
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