quarta-feira, maio 12

O cálice das pérolas


Era uma vez... As histórias maravilhosas começam assim. Não importa o tamanho delas. Se começam por era uma vez, são sempre maravilhosas. 
Pois era uma vez um homem. Um homem pobre que de precioso só tinha um cálice. 
Nele, ele bebia a água do riacho que passava próximo à sua casa. Nele, bebia leite, quando o conseguia, em troca de algum trabalho. 
Era pobre, mas feliz. Feliz com sua esposa, que o amava. Feliz em sua pequena casa, que o sol abraçava nos dias quentes, tornando-a semelhante a um forno. 
Feliz com a árvore nos fundos do terreno, onde escapava da canícula. 
Saía pelas manhãs em busca de algum trabalho que lhe garantisse o alimento a ele e à esposa, a cada dia. 
Assim transcorria a vida, em calma e felicidade. Nas tardes mornas, quando retornava ao lar, era sempre recebido com muita alegria. 
Era um homem feliz. Trazia o coração em paz, sem maiores vôos de ambição. 
Então, um dia... Sempre há um dia em que as coisas acontecem e mudam o rumo da História. 
Pois, nesse dia, nem ele mesmo sabendo o porquê, uma lágrima caiu de seus olhos, dentro do cálice. 
De imediato, o homem ouviu um pequeno ruído, como de algo sólido, que bateu no fundo do recipiente. 
Olhou e recolheu entre os dedos uma pérola. Sua lágrima se transformara em uma pérola. 
Então, o homem pensou que poderia ficar muito rico se chorasse bastante. 
Como não tinha motivos para chorar, ele começou a criá-los. Precisava se tornar uma pessoa triste, chorosa, para enriquecer. 
Com o dinheiro da venda das pérolas pensava comprar lindas roupas para sua esposa, uma casa mais confortável, propriedades, um carro. 
E assim foi. Ele começou a buscar motivos para ficar triste e para chorar muito. 
Conseguiu muitas riquezas. Ele poderia tornar a ser feliz. No entanto, desejava mais. 
As pequenas coisas que antes lhe ofertavam alegrias, agora, de nada valiam. 
Que lhe importava o raio de sol para se aquecer no inverno? Com dinheiro, ele mandou colocar calefação interna em toda sua residência. 
Por que aguardar os ventos generosos para arrefecer o calor nos dias de verão? Com dinheiro, ele pediu para ser instalado ar condicionado em toda a sua casa. 
E no carro, e no escritório que adquiriu para gerir os negócios que o dinheiro gerara. 
E a tristeza sempre precisava ser maior. Do tamanho da ambição que o dominava. 
Nunca era o bastante. Os afagos da esposa, no final do dia e nos amanheceres de luz deixaram de ser imprescindíveis. 
Ele não podia perder tempo. Precisava chorar. Precisava descobrir fórmulas de ficar mais triste e derramar mais lágrimas. 
Finalmente, quando o homem se deu conta, estava sem esposa, sem amigos. Só... Com seu dinheiro, toda sua imensa fortuna. 
Chorando agora, estava tão desolado, que nem mais se importava em despejar o dique das lágrimas no cálice. 
A depressão tomara conta dele e nada mais tinha significado. 


A história parece um conto de fadas. Mas nos leva a nos perguntarmos quantas vezes desprezamos os tesouros que temos, indo à cata de riquezas efêmeras. 
Pensemos nisso e não desperdicemos os valores verdadeiros de que dispomos. Nem pensemos em trocá-los por posses exageradas. 
A tudo confiramos o devido valor, jamais perdendo nossa alegria. 
Haveres conquistados à troca de infelicidade somente geram infelicidade. 
Pensemos nisso!


Fonte:Redação do Momento Espírita a partir de pequeno conto do cap. 4 do livro O caçador de pipas, de Khaled Hosseini, ed. Nova Fronteira.

Um comentário:

  1. Ana, que lindo texto!!! E é bem verdade! Já dizia meu pai, de valor ao que você tem, e pare de chorar pelo que você não tem!!!
    Parabéns, beijinhos!!!

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