terça-feira, janeiro 26

Solidão...




Por Ana Coaracy
Outubro de 2006

Não lembro de já ter sentido solidão. Estar só, sem um relacionamento ou sozinha, sem ninguém em casa, não quer dizer necessariamente que estamos solitários. Entre os muitos ensinamentos que tive e aprendi com a minha mãe, lembro muito bem de um que é o néctar para os solitários: “Quem tem um livro na mão e Deus no coração, nunca está só”. E me sinto assim mesmo.

Quando era pequena, sentia orgulho, adorava mesmo, ver minha mãe lendo. Eu achava a coisa mais linda ver minha mãe sentada com um livro na mão, horas e horas em silêncio. Enquanto ela lia, viajando nas histórias, eu a olhava discretamente e também viajava, por que queria ser assim. Achava, no meu pensamento de criança, que aquilo era o máximo. E é! Para mim, é.
Foi assim que aprendi a gostar de ler. Não que eu seja uma “come livros”, mas gosto de estar sentada (ou deitada), horas a fio, lendo um bom livro (de preferência um policial, claro). Às vezes me pego na mesma posição que minha mãe ficava. Até o jeito de segurar o livro eu aprendi. Acho que peguei por osmose.

Somente há poucos dias contei a ela (minha mãe) como eu amava vê-la ler. Ela sorriu e disse que nunca tinha percebido. Quando leio, me esqueço do mundo, entro no livro e participo ativamente na narrativa. Sou daquelas que se sente o personagem e por vezes não se contenta com o fim. Não consigo sentir solidão com um bom livro na mão. Ter amigos é bom, mas no fim da festa, do encontro, da conversa, cada um vai para seu canto e fica o silêncio. Bom para ler um livro.
Dia frio. Nada como um bom vinho e um livro para ler. Dia quente, uma cervejinha e um livro daqueles bem legais. É noite, insônia. Que nada, ler um livro é bom para chamar Morfeu. Não importa o tipo, se romance, policial, ficção. Importa apenas entrar nesse mundo e aprender a viver cercado de novas emoções.
Mas não descuido, também, a segunda parte do ditado de mamãe, é claro. Ter Deus no coração é um conforto que nunca nos deixa sentir só. Gosto de ficar em silêncio, ouvindo apenas as letras tilintando na minha cabeça enquanto leio, e sentindo o coração aquecido pelo meu “Companheiro”. Nunca me sinto só.
Estou muito bem acompanhada, obrigada

Nenhum comentário:

Postar um comentário