sexta-feira, outubro 30

ONDE NASCE A ESPERANÇA...



Por Ana Coaracy

Outrora grande e frondoso cajueiro, hoje era apenas um “toco de pau”. Quando suas folhas começaram a cair e o cupim tomou conta de parte de seu tronco o fazendeiro não pensou duas vezes e mandou cortar. Os trabalhadores da fazenda, para terem menos trabalho, em vez de arrancarem a raiz, apenas passaram a moto-serra no tronco e assim o velho cajueiro virou um banco de madeira, um “toco de pau”, bem na frente da fazenda, diante da estrada.
E era ali, que todas as manhãs, cedinho, o menino sentava para esperar o pau de arara que o levaria para escola. O menino andava uma légua até a frente daquela fazenda só para sentar naquele “toco de pau”, de onde podia ver hectares e hectares de terra, que não eram suas, mas faziam parte de seus sonhos.
Sentado ali naquele “toco de pau” o menino sonhava com castelos de vento, lembrava das brincadeiras do fim de semana e criava em seu mundo de menino, o futuro que queria ter.
Ele e o “toco de pau” eram cúmplices. Ambos queriam a mesma coisa, crescer. O menino sonhava em ser grande e, como todos os meninos pensam, poder ajudar a mãe.
Muito pobre, ele pensava em ser rico um dia, assim como o dono daquela fazenda. Não queria ter tantas terras e até pensava: “para que tanta terra se não se faz nada com ela?”. Mas queria poder melhorar de vida. Ele pensava que podia ser veterinário e cuidar dos muitos animais de grande porte que haviam na região. Eram tantos animais que ficaria rico rapidinho se cobrasse apenas R$ 1,00 por cada injeção que aplicasse, pensava.
Ou podia ser também agrônomo e cuidar das muitas terras do local. Da mesma forma, achava que ficaria rico rapidinho, mesmo cobrando baratinho para dar explicações e receitas para melhorar o plantio.
O “toco de pau”, por sua vez, também tinha sonhos de grandeza. Queria ser grande, de novo, e voltar a florir. Sonhava, rememorando o passado, quando meninos subiam em seus galhos para degustar os suculentos cajus que só ele podia dar. Mas agora, “toco de pau”, tinha como companhia apenas aquele menino que tinha sonhos de grandeza como ele.
E eram apenas sonhos. Um dia o “toco de pau” chegou a ter pena do menino. Achou que, como ele (toco de pau), não haveria muita esperança para aquele menino, que tinha vontade forte, mas pouca chance de conseguiu atingir seus objetivos.
Os dois muito se pareciam, o “toco de pau” e o menino pobre queriam crescer, mas a vida os emperrava. O “toco de pau” não acreditava no futuro do menino e no seu.
Passadas muitas manhãs de sonho, num dia meio cinza o menino não apareceu e o “toco de pau” quase se preocupou com a ausência daquele sonhador. Quase, por que sua atenção se voltou para outra coisa que ele quase não acreditou.
De seu tronco, que virou banco para menino, brotava um pequeno galho e dele uma folha. Era a esperança de crescer que se renovava na vida do “toco de pau”. E ele finalmente acreditou...
Os anos se foram e o “toco de pau” já era novamente um cajueiro de galhos fortes e frondosos na frente daquela fazenda.
Era de tardinha quando aquele cajueiro forte sentiu um leve toque em seu tronco e reconheceu. Abraçado àquele tronco que havia sido um “toco de pau”, estava o menino. Hoje era um homem, um bem sucedido veterinário e agrônomo, que voltava às origens a passeio.
O menino, agora homem feito, viajava para passar férias na fazenda que comprou para os pais, quando no caminho viu o cajueiro e se lembrou do “toco de pau”. Sim, ele nunca esqueceu seu cúmplice de sonhos e teve que descer do carro para cumprimentá-lo.
Mais feliz do que antes, o menino-homem entendeu que aquele cajueiro frondoso era ele (o menino), que conseguiu crescer como sonhou um dia. Foi ali, sentado no “toco de pau”, que a esperança nasceu.

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